quarta-feira, 24 de março de 2010

Relações Interpessoais: explicação sistémica

Sistema pode ser entendido como uma combinação ordenada de partes que se integram para produzir um resultado. A visão sistémica é uma tentativa de compreensão das diferentes partes de um sistema ou subsistema e entre sistemas entre si. Um sistema supõe-se possuir autonomia, mas pode ser componente de sistemas mais amplos. A decomposição ou recomposição de sistemas depende da lupa do observador.
Como acontecia na visão linear, a decomposição do sistema em subsistemas não altera as premissas iniciais, não há assim contradição. Não há dicotomia entre os dois modelos, existe conciliação entre eles.

As limitações do experimentalismo laboratorial, em Psicologia Social prendem-se com: hipersimplificação do ambiente laboratorial; a incerteza do sujeito face à possibilidade de interpretação; a relação atemporal entre os sujeitos e entre estes e o investigador. Estas limitações configuram artificialidade e trazem objecções por parte dos interessados na investigação.

A teoria sistémica transporta para as relações interpessoais a decomposição do desempenho social em diversos níveis de habilidades (molares ou amplas e moleculares ou restritas), supondo-as em contínuo, faz sentido se entendermos o desempenho como conjunto de subsistemas do indivíduo integrados no seu ambiente. Este ambiente não se refere apenas a situações específicas, mas também a contextos como família, escola, sociedade, cultura e outros.

Qualquer programa que vise o desenvolvimento de habilidades sociais, de remediação ou de prevenção, deve possibilitar ao participante a compreensão das suas dificuldades interpessoais. As pessoas-chave nas suas vidas seriam então reconstruídas no ambiente terapêutico a partir da percepção do utente.

Os riscos do pensamento linear, em terapêutica, é o de tornar o outro como responsável pelas dificuldades do doente que apresenta a queixa e daqui supor que cabe ao processo desenvolver habilidades deste para lidar com aquele. Focalizar o processo terapêutico em apenas um dos pólos, desconsiderando a relação existente entre subsistemas, leva ao risco de ceder à armadilha da lógica da organização sócio-capitalista, que é preparar um para vencer o outro. Não há nesta linha de pensamento a possibilidade da terapia desenvolver habilidades sem usar o poder coercivo e de prover recursos saudáveis, com relações igualitárias, fraternas e amistosas. Em teoria sistémica cliente e suas relações (pai, mãe ou outros) seriam integrados em sistemas mais amplos, reconhecendo-se que alterações positivas são geradoras de feedback para o próprio e produzem mudanças em outros subsistemas.

Se se tomar os factores intra-individuais cognições e emoção, ambos se afectam e afectam o modo como a pessoa reage aos estímulos do ambiente (pode ser o comportamento do outro indivíduo) caracterizando-se como subsistema. Para entender uma parte, por exemplo, a emoção, é preciso entender de forma ampla outro subsistema, por exemplo a família. Os subsistemas articulam-se entre si, a menos que surja os chamados pontos de alavancagem – especificidades do sistema. A tríade pensamento - sentimento – acção pode ser considerada como subsistema do sistema humano. Qualquer processo terapêutico ou educacional tem que ter em conta a articulação entre esses subsistemas e a possibilidade de identificação de pontos de alavancagem em pelo menos um deles.

Os sistemas humanos são determinados pela forma como os componentes se relacionam entre si, conferindo-lhe estrutura. As estruturas distinguem-se pelas suas dinâmicas próprias (relações, normas e regras). A mesma realidade pode ser percebida de modos diferentes em diferentes momentos e por diferentes pessoas. Isto implica a subjectividade. A realidade pode ser objectiva, mas a percepção desta é sempre subjectiva.

Concluímos a análise e a síntese das habilidades sociais, a identificação da procura dos contextos e formulação de propostas de métodos de vivência, como instrumentos dos subsistemas emoção, sentimento e comportamento, numa panorâmica de habilidades sociais sob a perspectiva sistémica.



PRETTE, A e PRETTE, Z. (2007). Psicologia das relações Interpessoais Vivência Para o Trabalho em Grupo. SP Brasil: Petrópolis.

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