terça-feira, 30 de março de 2010

Alteração de trajectórias de vida desfavoráveis (Síntese)

Um contexto emocional seguro gera qualidade de aprendizagem e do desenvolvimento, o contrário também é decisivo para as crianças em situação de adversidade: pobreza, doença mental dos progenitores, ausência de cuidados essenciais, a negligências e os maus tratos, entre todos. A vivência de uma situação de risco afecta inevitavelmente o processo desenvolvimental podendo comprometer a aquisição de importantes recursos psicológicos do ponto de vista cognitivo, emocional e social (Cowan,Cowen e Schulz,1996, citado em Matos, P.2007: 57).

Os factores protectores compensatórios ou desafiantes podem alterar os factores desfavoráveis ( Garmezy, Masten e Tellegen, 1984). Trajectórias semelhantes podem conduzir a resultados diversos, assim com trajectórias diversas podem conduzir a resultados semelhantes - princípio da equifinalidade. Neste sentido a resiliência é considerada como um processo dinâmico que permite que os indivíduos sejam capazes de obter bons resultados desenvolvimentais em face da adversidade (Luthar, Cicchetti e Becker, 2000). Por exemplo, a relação de apoio emocional com um professor pode facilitar a crianças com dificuldades de aprendizagem criem e desenvolvam o gosto pela aprendizagem, pela descoberta, pelo novo.

O distúrbio de hiperactividade, de défice de atenção estão associados a dificuldades ao nível de vinculações seguras mais significativas. Os padrões comportamentais de impulsividade e hiperactividade tendem a provocar nos pais e professores respostas emocionais negativas e desfavoráveis para o seu desenvolvimento emocional. A falta de organização, a desatenção, o desleixo, a agitação psicomotora, e outros são entendidos como preguiça ou provocação e não à luz de quadros mais complexos que permitam compreender o comportamento desadaptativo. Ao referirem-se negativamente aos comportamentos dos mesmos, pais e professores não ajudam as crianças a lidarem com as suas dificuldades e com os sentimentos de frustração, fracasso e desilusão que andam associados ao fracasso escolar.

O exemplo das crianças maltratadas (Crittenden, 1988, citado em Matos: 60) chama a atenção para o facto destas crianças que habitualmente são de meios caracterizados pela imprevisibilidade e incontrolabilidade, necessitarem de contextos que lhe permitam experienciar consistências, previsibilidade e um controlo social adequado. Quando a criança cresce numa situação como a descrita, reconhece que “não é merecedora de amor” e isso cria hostilidade entre si e o professor: são crianças distantes e agressivas.

Contribuir para o processo de resiliência de crianças em risco

É importante o papel do professor, o cuidado deve ser colocado ao nível da qualidade das relações entre o professor e o aluno, aquele tem uma figura decisiva para o aluno. O professor posiciona-se como a figura de vinculação alternativa. A disponibilidade dos professores em aceitar o papel de figura de vinculação poderá ajudar as crianças a ultrapassar obstáculos sérios com que se defrontaram no seu desenvolvimento, permitindo-lhe:
- Aprender a confiança básica e a reciprocidade;
-Desenvolver a capacidade de auto-regulação emocional e comportamental;
- Formar uma identidade que inclua um sentido positivo de valor próprio e autonomia; - estabelecer um conjunto de valores morais que derivam da empatia;
- Desenvolver recursos e resiliência que permitam às crianças integrar situações traumáticas anteriores.

Alterações das percepções e comportamentos do grupo de pares
Os professores devem estar atentos aos processos de marginalização pelo grupo de pares dentro e fora da aula - as crianças e os adolescentes são criticados pelos seus pares por ser gordo, magro, pela etnia, pequena deficiência, vestuário, tiques e muitas outras situações. É importante que o professor não tolere comentários agressivos entre os alunos, converse em privado com os alunos sobre a razão e os efeitos do comportamento menos adequado.

Surgem, por vezes, processos de auto-exclusão defensiva de auto-exclusão, situação em que os alunos se marginalizam por não terem competências de relacionamento e não se considerarem merecedores de atenção e cuidados do outro. Estes alunos cresceram normalmente em famílias fechadas ao mundo exterior, não tendo aprendido a autonomia. O jogo é uma forma de integração bem conseguida.

Situações que possam contribuir para a diminuição da auto-estima, resultam da interiorização dos sentimentos positivos desenvolvidos pelos outros. As crianças aprenderam a duvidar do seu valor. Quanto mais se sentirem compreendidas, cuidadas e respeitadas, tanto mais se criam as condições para que aprendam a aceitar-se e a gostar de si próprias. Encorajar estes alunos a definir metas e a observar a sua própria evolução, comparando-se consigo próprios e não com os outros, pode ajudar a aumentar a sua auto-estima. Para tal é importante também que a cultura escolar incentive e premei o esforço e a evolução e se constitua verdadeiramente como um contexto de desenvolvimento.

Situações conflituosas que exigem dos alunos recursos emocionais de que eles não dispõem trazem dificuldades ao processo de regulação emocional. As crianças reagem com estratégias de maximização das emoções, minimização das emoções ou desorganização emocional. A qualidade da sua comunicação verbal e não verbal é de extrema importância na medida em que estas crianças são sensíveis a sinais de rejeição, tendendo a interpretar negativamente as mensagens.


Costa, E. e Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

Sem comentários:

Enviar um comentário