domingo, 16 de maio de 2010

A Acção tutorial na perspectiva vygotskiana - a ZDP


Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), conceito definido por Vygotsky, teve enorme influência nos meios educacionais europeus e norte-americanos a partir da década de 60 do século passado. A ZDP pode ser definida como a distância entre o nível de resolução de um problema (ou uma tarefa) que uma pessoa pode alcançar actuando independentemente e o nível que pode alcançar com a ajuda de outra pessoa mais competente ou mais experiente nessa tarefa. Por outras palavras, essa ZDP será o espaço no qual, graças à interacção e à ajuda de outros, uma determinada pessoa pode realizar uma tarefa de uma maneira e alcançar um nível que não seria capaz de alcançar individualmente.Recebendo intervenções pertinentes nesse espaço, a mente humana pode, noutras oportunidades, desenvolver esse mesmo esquema de procedimentos, aprendendo de maneira autónoma.

Quando o professor prepara actividades ou define estratégias, deve atender ao nível de desenvolvimento real do aluno, ou seja ao nível segundo o qual este terá capacidade de resolver sozinho os problemas colocados (o seu ponto de partida) de modo a identificar possíveis dificuldades de aprendizagem. Deste modo, existe desenvolvimento cognitivo quando o indivíduo é confrontado com uma tarefa que encerra alguma dificuldade mas apresenta alguma possibilidade de actividade, de tal modo que o indivíduo possa mobilizar competências já adquiridas para inventar uma solução parcial para o problema que se lhe coloca. Se a tarefa é demasiado fácil, é pouco estimulante e não propicia o desenvolvimento, se demasiado difícil, encontra-se fora da zona de desenvolvimento proximal e, portanto, também não ocorre aprendizagem ou desenvolvimento. De tudo isto resulta, obviamente, a necessidade de adequação das experiências de aprendizagem aos sujeitos, mas também a vantagem de instituir práticas fundadas no trabalho colaborativo.

As interacções sociais podem ser simétricas ou assimétricas. Nas interacções assimétricas, os sujeitos assumem papéis diferentes, sendo neste tipo de interacções que se enquadram as tutorias. As acções tutoriais baseiam-se em mediações e interacções assimétricas entre sujeitos, as quais possibilitam orientar, dirigir e supervisionar o processo de aprendizagem. O professor tutor, acompanhando de forma mais individualizada o aluno e estabelecendo contactos regulares com a família, terá mais condições para definir a Zona de Desenvolvimento Proximal deste, já que poderá alcançar sobre o mesmo uma visão sistémica, composta dos vários sistemas de relações em que o aluno emerge como objecto a desenvolver.

Um tutor deve ser alguém que, para além de demonstrar disponibilidade, seja capaz de reconhecer emoções e sentimentos, atender aos problemas do aluno, cuidar, proteger e defender o aluno, ajudar o aluno a ultrapassar dificuldades de integração na escola/turma, melhorar a auto-estima e inserção social do aluno, ajudar a adquirir hábitos de trabalho individual e de grupo e a ultrapassar as dificuldades de aprendizagem surgidas no percurso escolar. Deve ainda, ter facilidade em estabelecer laços de afectividade e demonstrar empatia para com os alunos e respectivas famílias e reunir credibilidade nas suas acções profissionais e atitudes pessoais.
Para Asensio (2006:206) de um ponto de vista pedagógico, a educação emocional deveria estar ao serviço de um modelo aberto, experimental, democrático, sistémico e construtivista. Isto implica que a educação emocional não se pode esgotar num programa fechado e neutro, de aplicação geral. É necessário combinar as dimensões cognitivas e afectivas com programas formativos com base no método experimental. Deve partir-se da história de vida do aluno para um trabalho emocional que faça a ligação das suas experiências com a sua personalidade e com as actividades do grupo.
É indubitável que as práticas educativas devem usufruir do avanço das técnicas psicoterapeutas, para trabalhar as emoções humanas. A autobiografia é apontada como um caminho de tutoria. Os seus principais objectivos são:

1- Desenvolver o auto-conhecimento;
2- Desenvolver a capacidade de análise e crítica da vida quotidiana (família, escola, meios de comunicação, grupo de amigos, tempos livres, outros);
3- Educar para o amor, para o prazer e rigor da leitura e da escrita;
4- Relacionar a biografia pessoal, o contexto local e familiar, o âmbito social e cultural global;
5- Privilegiar a experiência pessoal do aluno no processo de ensino-prendizagem ;
6- Ajudar a colocar de um modo reflexivo as dificuldades pessoais, criando recursos para enfrentar de uma modo maduro as dificuldades do quotidiano.
O papel do tutor prende-se com o facilitar ao aluno um trabalho em autonomia, criativo e de experiência afectiva. Deve introduzir motivação para a investigação dirigida a recuperar evidências, experiências e sentimentos em diálogo com os familiares, mentores, amigos e professores. Deve, ainda, reduzir a ansiedade e o mal-estar que conduz muitas vezes ao abandono da escola e desistência do plano de estudos. Por fim, todo este trabalho deve ser feito com inteira confidencialidade, precavendo a exposição do aluno.

Bibliografia

Asensio, J. M.; Garcia-Carrasco, J.; Cubero, L.; Larrosa, J. (coords.) (2006). La vida emocional. Barcelona: Ariel.

A Perspectiva vygotskiana na aprendizagem - Reflexão


Fig.1-Lev Vygotsky

A linguagem e o contexto cultural são considerados por Vygotsky como as ferramentas mais importantes ao serviço da aprendizagem e do desenvolvimento. Para além destas ferramentas, o professor deve assumir-se como mediador entre a criança e os objectos e entre as crianças e os pares.
No entanto, a sua questão fundamental foi: como é que o homem cria cultura? Procurou a resposta na Psicologia e acabou por elaborar uma teoria do desenvolvimento intelectual, sustentando que todo o conhecimento é construído socialmente, no âmbito das relações humanas. A sua teoria tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo histórico e social, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento.
Assim, o papel da interacção social ao longo do desenvolvimento do homem é fundamental. Isto quer dizer que o homem é herdeiro de toda a evolução filogenética (espécie) e cultural, e o seu desenvolvimento dar-se-á em função de características do meio social em que vive. Daqui surge o termo sociocultural ou histórico atribuído à teoria. Assinalam-se, constantemente, a explicação dos processos mentais superiores baseados na imersão social do homem que por sua vez é histórico, ontológico e filogenético.
Atento à "natureza social" do ser humano, que desde o berço vive rodeado por seus pares num ambiente impregnado pela cultura, Vygotsky defendeu que o próprio desenvolvimento da inteligência é produto dessa convivência. Para ele, "na ausência do outro, o homem não se constrói homem".
Enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso directo aos objectos, mas o acesso é mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. Enfatiza a construção do conhecimento como uma interacção mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não é visto como uma acção do sujeito sobre a realidade (como no construtivismo) e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social pode apresentar-se por meio de objectos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real, estando em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.

Bibliografia
http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/Engestrom/expanding/toc.htm
(acedido em 6-5-2010).
http://www.robertexto.com/archivo1/socio_construtivista.htm (acedido em 6-5-2010)

Perspectiva Dialógica das Interações: A Teoria da Actividade



Fig.1-Estrutura de Actividade na forma animal

A actividade humana é uma realização evolucionária complexa. De uma forma simplificada, pode ser descrita em três etapas principais, desde a forma animal de actividade, passando pela estruturação na transição do animal para homem e, por fim, a estruturação da actividade humana nas sociedades evoluídas.
A forma animal de actividade caracteriza-se pelo facto da espécie agir de forma colectiva com vista à sobrevivência. Esta actividade não é só adaptativa do indivíduo ao meio, mas a acção por si exercida implica uma alteração, com a construção dos ambientes.
Efectivamente um facto considerado de importância capital da passagem de animal para homem foi a aquisição da posição erecta (bípede), que libertou a mão do andar e que proporcionou o uso e construção de ferramentas. Ao agir em grupo os sujeitos passaram da adaptação e acasalamento para uma forma superior que originou a formação de tradições, rituais e regras. Passou-se da sobrevivência colectiva para a divisão do trabalho, sendo esta numa primeira fase, a divisão do trabalho entre sexos. Na estruturação da actividade na transição do animal para homem, as rupturas com formas anteriores deixam de ser separadas ou mediadas e tornam-se factores unificados. O que era ecológico e natural converte-se em económico e histórico (social). A actividade de adaptação é transformada em consumo e subordina-se a três aspectos dominantes da actividade humana – produção, distribuição e troca. Passa a existir uma multiplicidade de relações dentro da estrutura triangular da actividade (membro individual da espécie, envolvimento natural, população).
Na estrutura da actividade humana, esta é dirigida e transformada como resultado do uso de instrumentos, incluindo ferramentas e sinais de mediação. A comunidade constituída por vários indivíduos ou subgrupos que partilham o mesmo objecto geral distinguem-se de outras comunidades. A divisão do trabalho passa a conter a divisão horizontal (divisão de tarefas entre os membros da comunidade) e a divisão vertical (poder e status).
As regras, implícitas ou explícitas, definem normas e convenções de forma a restringir as acções e interacções dentro do sistema de actividade.
O modelo sugere a possibilidade de analisar uma infinidade de relações dentro da estrutura triangular da actividade.



Fig.2-Estrutura da Actividade Humana

Um sistema da actividade é sempre heterogéneo e de múltiplas relações. Há uma construção e uma negociação constantes dentro do sistema da actividade.
Há igualmente um movimento constante entre os nós da actividade. O que aparece inicialmente enquanto o objecto pode logo ser transformado num resultado, a seguir ser transformado num instrumento, e mais tarde numa regra (Engeström, 1996). Por um lado, as regras podem ser questionadas, reinterpretadas e transformadas em novas ferramentas e em novos objectos. A actividade é uma formação colectiva, sistemática que tem uma estrutura complexa de relações. Um sistema da actividade produz acções e é realizado por meio das acções. Entretanto, a actividade não é redutível às acções. As acções são relativamente breves e têm um começo temporal bem definido e determinado. Os sistemas da actividade evoluem durante períodos longos de tempo histórico e social, frequentemente tomando a designação de instituições e organizações.



Fig.3-Estrutura da Actividade humana

Uma coisa ou um fenómeno transformam-se num objecto da actividade enquanto necessidade humana e o seu significado é atribuído pelo individuo em sociedade.
Um sistema de actividade não existe no vácuo, mas interage com uma rede de outros sistemas de actividade. Por exemplo, recebendo regras (leis) dos instrumentos do sistemas de determinada actividade (por exemplo, da gestão) e produzindo resultados de determinados sistemas de outras actividades (os alunos e as famílias). Assim, as influências de fora "intrometem-se" no seio dos sistemas em actividade. No entanto, tais forças externas não são suficientes para explicar as mudanças e eventos surpreendentes na actividade. As influências externas são os primeiros afectados pelo sistema de actividade, alterando e modificando os factores internos. Causalidade real ocorre quando o elemento externo se torna-se interno para a actividade e isso pode causar desequilíbrio.
O sistema está em constante actividade através das contradições no seu seio e entre os seus elementos. Neste sentido, um sistema em actividade é aquele onde podem ser introduzidas perturbações da sua máquina virtual levando à inovação, à produção e à mudança. O sistema é assim comparado a algo vivo com trocas entre os seus componentes e destes com o exterior. O que o mantém em actividade é a sua capacidade de perturbação e mudança.



Fig.4-Estrutura Hierárquica de Actividade
Os conflitos e os enganos emergem facilmente entre estes sistemas da actividade. Considere-se quatro níveis de contradições podem agora ser colocadas em posições apropriadas em uma rede esquemática das actividades.



Fig.5-Quatro Níveis de Contradições Numa Rede de Sistemas de Actividade Humana

Nível 1: Contradição interna preliminar, dentro de cada componente da actividade central. Nível 2: Contradições secundárias entre os componentes da actividade central. Nível 3: Contradição terciária entre o objecto/motriz do formulário dominante da actividade central e o objecto/motriz de um formulário cultural mais avançado da actividade central. Nível 4: Contradições Quatro, entre a actividade central e suas actividades vizinhas. As contradições internas de um sistema da actividade são as forças da sua evolução. Isto significa que as novas formas de actividade emergem como soluções às contradições do formulário anterior. Na realidade acontece sempre que um fenómeno que se torne mais tarde universal original emergiu como um fenómeno individual, particular, específico, como uma excepção da régua. Não podendo realmente emergir de outra maneira.
Assim, alguma melhoria e inovação, cada nova modalidade de acção de produção, antes de tornar-se aceite e reconhecida na generalidade, emerge primeiro como desvio das normas, previamente aceites e codificadas. Emergindo como uma excepção individual da regra no trabalho de um indivíduo, a nova forma é aceite por outro, transformando-se a tempo numa nova lei universal.

http://www.edu.helsinki.fi/activity/pages/chatanddwr/activitysystem/(acedido e adaptado em 1-5-2010).