sexta-feira, 26 de março de 2010

Proposta para um novo padrão relacional - Síntese

Grande parte da nossa vida decorre das interacções com outros indivíduos. Quando não há esses contactos sociais, surgem problemas psiquiátricos tais como dependência psicoactiva, alcoolismo, depressão episódica, infelicidade e não realização. A ausência prolongada de relações satisfatórias está associada a doença física, stress crónico e tendência ao suicídio. Inteligência social, sensibilidade, empatia, desenvolvimento interpessoal, assertividade são termos usados por vezes com diferentes significados. Propõem-se perfis de alunos e de professores idealizados onde se valorizam a boa comunicação, o controle emocional, a mente criativa e aberta, a facilidade de trabalhar em equipa, a capacidade para conhecer os outros, a promoção de elogios e feedback, a liderança de forma construtiva, etc. Estes conceitos provem de “uma nova mentalidade cultural, descrita em termos de paradigmas alternativos que agregam valores, práticas e propostas associados a uma visão crítica das antigas formas de convivência nos diversos sectores da actividade humana” (Prette, 2007: 213).

O estudo sistémico das interacções sociais iniciou-se na Psicologia com o interesse dos estudos de Charles Darwin (Evolução das espécies, 1985). O homem é uma das espécies mais evoluídas ao longo da sucessão evolutiva e está sempre a aprender a adaptar-se às condições favoráveis e a modificar as que lhe são desfavoráveis. Kiesler, citado nesta obra, argumenta que o ser humano possui uma propensão intrínseca para a vida social e que tal propensão teve um papel muito importante na sobrevivência das espécies.

Ao longo da evolução, a sobrevivência foi feita pela relação com o outro, na procriação, no cuidado com os filhos, na preparação destes para a vida, e na divisão das tarefas. As formas básicas de relacionamento seriam competências biologicamente preparadas, módulos complexos de padrões cognitivos, emotivos e comportamentais para responder a necessidades internas ou externas de relacionamento interpessoal. As competências primitivas foram as reacções de ataque, agressão, comportamento anti-social e a ansiedade. As competências desenvolvidas ao longo da sua evolução são a capacidade de cuidar dos filhos e dos demais quando estavam sob ameaça. Estas capacidades foram dadas, em culturas mais elaboradas, através das práticas religiosas, do trabalho colectivo e da educação estética.

Ao deparar-se com o outro, o indivíduo é capaz de percebê-lo como algo ameaçador ou como fonte de satisfação. Trower, citado nesta obra, defende que os indivíduos desenvolvem um esquema interpessoal que desempenha um papel importante na produção do comportamento social. Trata-se de uma estrutura geral de conhecimento baseado nas interacções prévias que contém as informações relevantes para a manutenção das relações interpessoais, para guiar a percepção selectiva dos estímulos sociais e a auto-apresentação do indivíduo. O conceito central desta teoria, a de apresentação da self refere-se às projecções ligadas ao desempenho social que actuam na formação da auto-imagem: cada pessoa tem como objectivo causar boa impressão na relação com o outro, quando o indivíduo tem dúvida ou isto não acontece pode desenvolver-se ansiedade social.

A auto-apresentação do self varia com as situações sociais. Quanto mais flexível for o indivíduo, maior probabilidade existe de manter relações sociais saudáveis. Quanto mais ameaçadora a vida em sociedade maiores competências primitivas, que segundo este autor, são geneticamente determinadas, como a agressividade são desenvolvidas. Quando são generalizadas em termos colectivos dão origem a psicopatologia social ou psicopatologia da vida quotidiana que pode levar a uma situação de anomia (desrespeito pelas normas, pela leis) que é frequentemente combatida com normas severas e punições que geram ainda mais violência.

Inspirados na teoria de Trower sobre estas competências e reinterpretando-as de novos paradigmas e à luz de uma significação simbólica, dotada pelas antigas filosofias de conduta, propõe-se uma análise dos elementos que supomos importantes para um relacionamento saudável e apropriado na sociedade actual. Estas envolvem três elementos fundamentais: interdependência, aceitação e solidariedade. Estes interpenetrando-se desenvolvem valores. Apresentaremos mais tarde uma clarificação de cada um destes conceitos.


PRETTE, A e PRETTE, Z. (2007). Psicologia das relações Interpessoais Vivência Para o Trabalho em Grupo. SP Brasil: Petrópolis.

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