domingo, 16 de maio de 2010

Perspectiva Dialógica das Interações: A Teoria da Actividade



Fig.1-Estrutura de Actividade na forma animal

A actividade humana é uma realização evolucionária complexa. De uma forma simplificada, pode ser descrita em três etapas principais, desde a forma animal de actividade, passando pela estruturação na transição do animal para homem e, por fim, a estruturação da actividade humana nas sociedades evoluídas.
A forma animal de actividade caracteriza-se pelo facto da espécie agir de forma colectiva com vista à sobrevivência. Esta actividade não é só adaptativa do indivíduo ao meio, mas a acção por si exercida implica uma alteração, com a construção dos ambientes.
Efectivamente um facto considerado de importância capital da passagem de animal para homem foi a aquisição da posição erecta (bípede), que libertou a mão do andar e que proporcionou o uso e construção de ferramentas. Ao agir em grupo os sujeitos passaram da adaptação e acasalamento para uma forma superior que originou a formação de tradições, rituais e regras. Passou-se da sobrevivência colectiva para a divisão do trabalho, sendo esta numa primeira fase, a divisão do trabalho entre sexos. Na estruturação da actividade na transição do animal para homem, as rupturas com formas anteriores deixam de ser separadas ou mediadas e tornam-se factores unificados. O que era ecológico e natural converte-se em económico e histórico (social). A actividade de adaptação é transformada em consumo e subordina-se a três aspectos dominantes da actividade humana – produção, distribuição e troca. Passa a existir uma multiplicidade de relações dentro da estrutura triangular da actividade (membro individual da espécie, envolvimento natural, população).
Na estrutura da actividade humana, esta é dirigida e transformada como resultado do uso de instrumentos, incluindo ferramentas e sinais de mediação. A comunidade constituída por vários indivíduos ou subgrupos que partilham o mesmo objecto geral distinguem-se de outras comunidades. A divisão do trabalho passa a conter a divisão horizontal (divisão de tarefas entre os membros da comunidade) e a divisão vertical (poder e status).
As regras, implícitas ou explícitas, definem normas e convenções de forma a restringir as acções e interacções dentro do sistema de actividade.
O modelo sugere a possibilidade de analisar uma infinidade de relações dentro da estrutura triangular da actividade.



Fig.2-Estrutura da Actividade Humana

Um sistema da actividade é sempre heterogéneo e de múltiplas relações. Há uma construção e uma negociação constantes dentro do sistema da actividade.
Há igualmente um movimento constante entre os nós da actividade. O que aparece inicialmente enquanto o objecto pode logo ser transformado num resultado, a seguir ser transformado num instrumento, e mais tarde numa regra (Engeström, 1996). Por um lado, as regras podem ser questionadas, reinterpretadas e transformadas em novas ferramentas e em novos objectos. A actividade é uma formação colectiva, sistemática que tem uma estrutura complexa de relações. Um sistema da actividade produz acções e é realizado por meio das acções. Entretanto, a actividade não é redutível às acções. As acções são relativamente breves e têm um começo temporal bem definido e determinado. Os sistemas da actividade evoluem durante períodos longos de tempo histórico e social, frequentemente tomando a designação de instituições e organizações.



Fig.3-Estrutura da Actividade humana

Uma coisa ou um fenómeno transformam-se num objecto da actividade enquanto necessidade humana e o seu significado é atribuído pelo individuo em sociedade.
Um sistema de actividade não existe no vácuo, mas interage com uma rede de outros sistemas de actividade. Por exemplo, recebendo regras (leis) dos instrumentos do sistemas de determinada actividade (por exemplo, da gestão) e produzindo resultados de determinados sistemas de outras actividades (os alunos e as famílias). Assim, as influências de fora "intrometem-se" no seio dos sistemas em actividade. No entanto, tais forças externas não são suficientes para explicar as mudanças e eventos surpreendentes na actividade. As influências externas são os primeiros afectados pelo sistema de actividade, alterando e modificando os factores internos. Causalidade real ocorre quando o elemento externo se torna-se interno para a actividade e isso pode causar desequilíbrio.
O sistema está em constante actividade através das contradições no seu seio e entre os seus elementos. Neste sentido, um sistema em actividade é aquele onde podem ser introduzidas perturbações da sua máquina virtual levando à inovação, à produção e à mudança. O sistema é assim comparado a algo vivo com trocas entre os seus componentes e destes com o exterior. O que o mantém em actividade é a sua capacidade de perturbação e mudança.



Fig.4-Estrutura Hierárquica de Actividade
Os conflitos e os enganos emergem facilmente entre estes sistemas da actividade. Considere-se quatro níveis de contradições podem agora ser colocadas em posições apropriadas em uma rede esquemática das actividades.



Fig.5-Quatro Níveis de Contradições Numa Rede de Sistemas de Actividade Humana

Nível 1: Contradição interna preliminar, dentro de cada componente da actividade central. Nível 2: Contradições secundárias entre os componentes da actividade central. Nível 3: Contradição terciária entre o objecto/motriz do formulário dominante da actividade central e o objecto/motriz de um formulário cultural mais avançado da actividade central. Nível 4: Contradições Quatro, entre a actividade central e suas actividades vizinhas. As contradições internas de um sistema da actividade são as forças da sua evolução. Isto significa que as novas formas de actividade emergem como soluções às contradições do formulário anterior. Na realidade acontece sempre que um fenómeno que se torne mais tarde universal original emergiu como um fenómeno individual, particular, específico, como uma excepção da régua. Não podendo realmente emergir de outra maneira.
Assim, alguma melhoria e inovação, cada nova modalidade de acção de produção, antes de tornar-se aceite e reconhecida na generalidade, emerge primeiro como desvio das normas, previamente aceites e codificadas. Emergindo como uma excepção individual da regra no trabalho de um indivíduo, a nova forma é aceite por outro, transformando-se a tempo numa nova lei universal.

http://www.edu.helsinki.fi/activity/pages/chatanddwr/activitysystem/(acedido e adaptado em 1-5-2010).

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